terça-feira, 20 de novembro de 2012

Adoecimento docente (I)


Muitos professores da educação básica - muitos mesmo - estão doentes. Entidades representativas da categoria (como os sindicatos) vêm alertando, há bastante tempo, que a desvalorização do trabalho docente tem afetado não só o bolso mas também a saúde dos educadores.

Dos últimos estudos a respeito dessa questão, considero a pesquisa realizada pela Unicamp em 2007 - Condições do trabalho e suas repercussões na saúde dos professores da educação básica no Brasil - uma das mais relevantes. A pesquisa, é bom que se diga, contou com a participação de profissionais de outras instituições.

Na edição nº 447 do Jornal da Unicamp* (disponível aqui) é possível ter uma visão mais geral desta iniciativa.

Aparecida Neri de Souza e Márcia de Paula Leite, coordenadoras do estudo, junto com outros 13 colaboradores, buscaram analisar que tendências estavam sendo apontadas nas pesquisas acadêmicas, tratando de trabalho e saúde dos professores, produzidas entre 1998 e 2007. Algo logo chamou a atenção da equipe, nas primeiras análises:

 " [...] embora a escola sendo reconhecida grosso modo como uma instituição em que as condições de trabalho são ruins, o professor foi considerado, paradoxalmente, um profissional com alta qualificação profissional no mercado. Ainda que soe uma contradição, ficou claro que o professor não realiza suas tarefas mecanicamente e busca um sentido para o trabalho que faz" 

Trabalho há 18 anos no ensino fundamental. E penso que o termo mais indicado para caracterizar o trabalho educativo seja a palavra frustração. Se o professor é um profissional qualificado, é provável que espere ser reconhecido e recompensado por isso (não estou me referindo apenas à remuneração). Nessa "busca [de] um sentido para o trabalho que faz" é que o educador mais se sente frustrado porque trabalha numa instituição que, a meu ver, vem perdendo relevância social e deixando de fazer sentido. Por isso, cada vez mais profissionais optam, numa compreensível postura de autodefesa, pela mecanização de suas tarefas.

O trabalho da Unicamp aponta " uma crise de identidade nos professores, que vão perdendo a referência sobre o que devem fazer no ofício de ensinar" e também revela que:

"A importância da escola no processo de mobilidade social [...] tem sido colocada em dúvida, ao mesmo tempo em que o mundo do trabalho vem valorizando-a como uma possibilidade de acesso ao restrito mercado de trabalho. Sem garantir, no entanto, a inserção dos jovens escolarizados. Tudo isso lança uma pergunta que parece cada vez mais difícil de ser respondida: qual o papel social da escola atualmente?"

Existe uma distância muito grande entre o que escola deveria ser, teoricamente falando, e o que a escola é, no seu sofrido dia-a-dia. 

" A defasagem entre o trabalho a ser realizado e a realidade é cada vez maior, segundo as pesquisadoras. Os autores a caracterizam como 'a face oculta de nossa modernidade' e concluem que, quanto maior for essa defasagem, maior será o investimento afetivo e cognitivo exigido do professor, demandando maior esforço e sofrimento psíquico dele".

Continuarei a falar do importante estudo Condições do trabalho e suas repercussões na saúde dos professores da educação básica no Brasil nas próximas postagens.

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* Por que os professores adoecem? Jornal da Unicamp. Campinas, Ano XXIV, n. 447, 9/22 nov. 2009. Disponível em <http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/novembro2009/ju447_pag0607.php#> Acesso em 25/10/12 

BG de Hoje

Durante este mês estou tentando, por meio de letras de música, começar a implementar o que determina a lei 10.639 com as turmas de EJA (Educação de Jovens e Adultos) aqui da escola em que trabalho. Ilu-Ayê (Terra da vida) foi uma das que escolhi: tematiza a afrodescendência de forma simples e bonita. E a interpretação da MÔNICA SALMASO, no disco Voadeira, com a luxuosíssima percussão do Marcos Suzano, ficou divina! No vídeo abaixo, entretanto, a cantora está acompanhada de Eduardo Salmaso (não sei qual é o parentesco entre os dois - se é que há algum)